"É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão". (Cesare Pavese)

Conto 02 - O Enigma de Natal

Texto escrito originalmente em espanhol para um concurso de contos de uma escola de idiomas (AIL Madrid - Spanish Language School)


O Enigma de Natal



       Aquele fora um dezembro inesquecível ...

    O cheiro do Natal estava no ar. Cada casa daquele pequeno vilarejo exalava aromas característicos da melhor época do ano. Bolachas, biscoitos, amanteigados, massas folhadas adoçavam o ar das ruas e traziam as mais doces lembranças.

    Porém, da rua onde ficava o orfanato “Doce Infância”, vinha o verdadeiro cheiro do Natal: biscoitos de gengibre… As crianças órfãs esperaram por este dia com grande alegria. Dar forma as bolachas de Natal enchia de risadas aquele lugar. Bonecos de neve, estrelas, árvores e anjos iam ao forno e depois eram confeitados com as cores mais intensas que se possa imaginar.

       Depois de uma manhã movimentada, Dona Rosa, ou melhor, Vó Rosa, como gostava de ser chamada, reuniu todas as crianças no salão principal do orfanato para contar uma novidade. E ela anunciou em alta voz:

       - Crianças, estão vendo esse baú de madeira? O patrono do orfanato, o senhor Ricardo, nos ofereceu e está cheio de presentes ... São livros, brinquedos, guloseimas e tantas outras coisas que não se pode imaginar. Vamos chamá-lo de Baú do Tesouro de Natal!

       Todas as crianças ficaram maravilhadas e Vó Rosa continuou:

       - Mas só uma criança pode conquistá-lo. E para isso terá que decifrar o enigma do Natal ...

       Houve um alvoroço na sala e Dona Rosa prosseguiu:

    -  Silêncio, por favor! Silêncio! Para desfrutar deste tesouro vocês devem decifrar o seguinte enigma que está escrito no baú: “O tesouro de Roma é maior que o tesouro de Rebas”. Se ninguém conseguir decifrar o enigma, o baú será devolvido ao nosso patrono.

      Depois disso, o silêncio reinou entre as crianças e todas se entreolharam com expressões enigmáticas.

       - Muito bom, pessoal. Boa sorte a todos. Voltem às suas atividades do dia.

    Enquanto todos saíam da sala, o pequeno Miguel prostou-se diante do objeto de seu desejo, lembrando daquelas misteriosas palavras: “O tesouro de Roma é maior que o tesouro de Rebas”. Seu coração batia forte e a cada batida pulsava a esperança de realizar seu sonho, pois completaria dez anos no dia de Natal.

     No café da manhã, no almoço e no jantar, as conversas entre as crianças eram as mesmas: o enigma do Natal. Roma? Capital da Itália. Rebas? Talvez um rei italiano, guardião do tesouro ... Mesmo que as crianças se esforçassem, ninguém conseguia decifrá-lo. Todos temiam que o baú fosse devolvido ao senhor Ricardo. Todos, exceto Miguel.

       Véspera de Natal... A tarefa do dia era desenhar e colorir motivos de Natal em uma folha de papel. Enquanto a maioria das crianças desenhava os tradicionais motivos natalinos, Miguel - obcecado pela charada - desenhou o baú e escreveu as palavras-chave do enigma em caixa alta: ROMA e REBAS.

       O pôr do sol anunciava a data mais esperada do ano. Tarefa difícil para uma criança ir para a cama na véspera de Natal ... Miguel pendurou seu desenho na parede do quarto e fez uma oração, pedindo a Jesus que o ajudasse a decifrar o enigma do Natal. Ele adormeceu olhando aquelas palavras indecifráveis ...

       Quando os primeiros raios de sol anunciaram aquela manhã natalina, Miguel acordou repentinamente e percebeu que seus companheiros de quarto já haviam ido para o salão do orfanato para se reunir em volta da árvore de Natal e assim receber os presentes. O enigma! - Miguel lembrou-se, e então, ao ver o reflexo de seu desenho no vidro da janela do quarto, seus olhos se iluminaram. Dava para ver no vidro, ao contrário, as palavras-chave do enigma e tudo fazia sentido para o pequeno Miguel. AMOR e SABER… Saiu correndo porta afora de pijama, entrou na sala gritando e quase sem fôlego pôde dizer:

       - Eu sei o significado do enigma! "O tesouro do AMOR é maior do que o tesouro do SABER."

       Vó Rosa, cheia de alegria, pediu à criança que se aproximasse para receber as chaves da Baú do Tesouro de Natal das mãos do patrono, Sr. Ricardo, enquanto as demais crianças aplaudiam calorosamente o vencedor.

       Ao receber as chaves, Miguel surpreendeu a todos com as seguintes palavras:

      - Hoje é meu aniversário e quero repartir este tesouro com todos os meus colegas porque o amor é o melhor presente de Natal que podemos compartilhar.

      Até hoje ninguém esquece o menino Miguel que, apesar de pequeno, possuía uma grande sabedoria e um coração que transbordava tanto AMOR...


Professor Denilson Duarte

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